O novo Coronavírus infectou mais de 85 mil pessoas em 55 países e territórios em cinco continentes desde seu surgimento. Ao menos 3.000 morreram até o momento. O surto começou na China, que concentra 95% dos casos, e a chegada da doença ao Brasil ampliou o compartilhamento de informações, nem sempre verdadeiras, sobre o nível atual da crise e como se proteger da doença.
Nosso país confirmou dois casos e investiga outros 300 suspeitos. Reunimos abaixo as dúvidas mais comuns. Suas respostas baseiam-se em dados que vêm de infectologistas e virologistas e de fontes oficiais como a Organização Mundial da Saúde, o Serviço de Saúde do Reino Unido e os centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da China.
1. Quais são os sintomas da covid-19, doença causada pelo novo Coronavírus?
Os principais são: febre, tosse e dificuldade para respirar. Em um número menor de casos há espirros e coriza “sintomas gripais”. Em geral, após uma semana, a doença causa dificuldade para respirar e uma minoria de pacientes necessita de tratamento hospitalar.
2. Estou com sintomas parecidos. Devo ir ao hospital?
Por ora, no Brasil, há uma combinação de critérios para um paciente ser considerado suspeito. Primeiro, a pessoa precisa ter viajado para alguma área onde o vírus esteja circulando, como a China, Coréia ou Itália, ou ter tido contato próximo com alguém que tenha viajado para lá.
Contato próximo significa: direto ou estar a aproximadamente dois metros de um paciente com suspeita de novo Coronavírus dentro do mesmo ambiente, por um período prolongado. Depois, a pessoa que suspeita estar doente precisa ter febre e/ou precisa ter pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar.
3. Quão letal é o novo Coronavírus?
A taxa de letalidade da doença provocada pelo novo Coronavírus é estimada em 2,3%. Ou seja, a cada 100 pessoas que contraem o vírus, em média, pouco mais de duas morrem.
É muito grande quando comparada à taxa de mortalidade da gripe comum (menos de 0,1%), mas pouco quando comparada a SARS, doença ligada a outro Coronavírus que surgiu na China em 2002 e registrou taxa de mortalidade de cerca de 10%.
4. Quantas pessoas sobrevivem ao Coronavírus?
No surto atual, com base em dados de 44 mil pacientes infectados pelo novo Coronavírus, a Organização Mundial da Saúde informa que 81% desenvolvem sintomas leves; 14% desenvolvem sintomas graves; 5% ficam em estado crítico e não foram registradas mortes de crianças de até 9 anos. Não se sabe ainda a respeito da sobrevida desses pacientes, o que vai acontecer a longo prazo. Por isso, não é possível ainda fazer afirmações categóricas.
5. O Coronavírus tem cura?
Não existe vacina ou tratamento específico contra o vírus até agora, apenas o manejo sintomático. Quando o ciclo do vírus termina, ou seja, você adquire a doença, mas depois de um tempo os sintomas desaparecem, você está teoricamente curado. É a chamada cura espontânea, mas não se sabe ainda, por exemplo, se nosso corpo adquire imunidade ao vírus após o primeiro contágio. Portanto, não sabemos se um paciente pode contraí-lo duas vezes.
6. A transmissão é rápida? Passa pela tosse? Como identificar se estou doente?
Centenas de novos casos estão sendo registrados todos os dias. No entanto, os analistas acreditam que a real dimensão do surto pode ser 10 vezes maior que os números oficiais indicam. Estima-se que no surto atual cada pessoa infectada passou a doença para menos de três pessoas, em média.
Em geral, todos os vírus que afetam o trato respiratório são transmitidos pela via aérea ou pelo contato das mãos com a boca ou com os olhos, respirando no mesmo ambiente, tocando algo que uma pessoa infectada tocou, por exemplo. São as mesmas precauções de qualquer quadro viral que se dissemine por meio de gotículas. Geralmente, numa doença como essa, amostras de secreção respiratória são levadas ao laboratório. Ali, técnicas de detecção de material genético viral podem identificar a presença do agente infeccioso.
7. Se a taxa de mortalidade é relativamente baixa, por que tanta preocupação?
Em primeiro lugar, o fato de estarmos diante de um novo vírus sempre gera uma preocupação maior porque não se sabe exatamente como ele se comporta ou se facilmente sofre mutações.
O contágio assintomático durante o período de incubação (que varia entre 1 e 14 dias) é uma possibilidade bastante grande, segundo as autoridades de saúde, mas isso não está 100% comprovado. Medidas como quarentenas e suspensão das aulas assustam e causam transtornos, mas especialistas apontam que esse tipo de medida é eficaz para conter o surto.
8. É verdade que o vírus não sobrevive no calor?
Essa foi uma dúvida que surgiu depois que o ministro da saúde, no Brasil, afirmou que não sabemos ainda qual vai ser o comportamento do vírus aqui porque estamos no verão. De forma geral as temperaturas mais baixas aumentam o tempo de sobrevivência do vírus da gripe no ar. No calor, geralmente, a sobrevida deles fora do corpo é menor. Por outro lado, é importante lembrar que uma variedade diferente de Coronavírus, causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), por exemplo, surgiu no verão, na Arábia Saudita, então não há garantias de que o clima mais quente interrompa o surto. Sugere-se que as temperaturas apenas influenciem hábitos humanos que favoreçam ou desfavoreçam a transmissão, como a aglomeração em locais fechados.
9. Tomar chá quente e evitar boca seca mata o vírus?
Essas dicas vêm sendo compartilhadas nas redes sociais e são falsas. Segundo o Ministério da Saúde, até o momento não há nenhum medicamento, substância, infusão, óleo essencial, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir ou tratar a infecção pelo novo Coronavírus.
10. O que funciona, então, para combater o vírus?
•Lavar as mãos com frequência é básico e é o que vem sendo apontado como mais eficaz. Evite colocar a mão na boca, no nariz ou nos olhos sem lavar. Isto evita levar o vírus para as mucosas do corpo, por onde ele também entra.
•É fundamental bloquear a via aérea quando espirrar com lenço, braço ou outra via mecânica. Use um lenço na hora que tossir ou espirrar e jogue aquele papel fora ou cubra sua tosse/espirro com o braço. Não há evidências científicas de que as máscaras cirúrgicas sejam eficazes para pacientes sadios. Ela somente traz benefícios para evitar a disseminação da doença por um paciente que já está doente.
•Manter hábitos saudáveis para fortalecer a imunidade. Ou seja, dormir a quantidade de horas certas para a sua idade, alimentar-se bem, manter-se hidratado, fazer exercícios físicos regularmente e tentar reduzir o estresse traz benefícios.
11. Por que idosos são principais vítimas fatais?
De fato, a taxa de mortalidade do novo Coronavírus aumenta a partir dos 60 anos e chega a 15% para quem tem mais de 80 anos. Isso acontece por dois motivos: a imunidade a partir dos 60 anos perde força, o que deixa a pessoa mais suscetível a algumas doenças e, também, com capacidade comprometida de lutar contra infecções. Além disso, existem as chamadas comorbidades. A chance de alguém com mais de 60 anos ter outros problemas como diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, entre outros, é maior, o que gera um peso adicional no corpo na hora de lutar contra um novo vírus.
12. Por que os primeiros pacientes com Coronavírus no Brasil vão ficar em quarentena?
A quarentena domiciliar está entre as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para pacientes que estão em bom estado clínico, sem necessidade de internação. No hospital, aumentam as chances de que mais pessoas entrem em contato com o paciente, podendo propagar doenças entre outras pessoas que estão em situações mais graves e com a imunidade baixa.
Há também o risco de que a pessoa infectada pelo novo Coronavírus seja atingida por outras doenças que circulam no hospital. A quarentena em casa é também uma forma de tentar evitar que os hospitais fiquem sobrecarregados. As pessoas em quarentena domiciliar devem ter cuidados redobrados com a higiene como usar máscara quando tiverem contato direto com outras, lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e não compartilhar objetos de uso pessoal como talheres, copos e toalhas.
13. Então, qual foi a origem do surto?
A hipótese mais provável, segundo a OMS, é que a epidemia começou em um mercado da cidade chinesa de Wuhan e foi transmitida de um animal vivo para um hospedeiro humano, antes de se espalhar de humano para humano.
Nesse mercado eram vendidos tanto animais vivos quanto já abatidos. Mas não se sabe ainda qual animal está ligado ao novo Coronavírus. Uma grande variedade de animais pode ter servido como “hospedeiro” do vírus, especialmente o morcego, conhecido por ser portador de um número considerável de Coronavírus diferentes.
14. Como um surto como esse acaba?
Diante do quadro de queda do número de novos casos da doença, autoridades chinesas já estimam que as transmissões estarão totalmente sob controle até abril. Por outro lado, temem que um eventual “efeito bumerangue”, depois que uma pessoa oriunda do Irã chegou infectada ao país. Ou seja, com base no que já ocorreu em epidemias anteriores, dá para estimar o que pode acontecer na trajetória do vírus, mas não quando ela vai acabar.
Quando um vírus é introduzido em uma espécie, ele costuma causar doenças mais graves no início, mas depois passa por um processo de adaptação e se torna mais brando. Do ponto de vista evolucionário, ele precisa transmitir seus genes adiante.
Há formas de uma transmissão chegar ao fim:
•Medidas adotadas por autoridades de saúde que impeçam o contato entre pacientes infectados e pessoas saudáveis, evitando novos contágios.
•Processo de imunização do hospedeiro, ou seja, quanto maior a circulação do vírus, mais pessoas adquirem anticorpos contra ele e ficam imunes.
•A vacinação da população (porém, isso não é possível, pois a vacina ainda está sendo desenvolvida).